Empresário diz à CPI que não ajudou a financiar atos antidemocráticos

13/04/2023 17:55

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga os atos antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) realizou oitiva do empresário Joveci Xavier de Andrade na manhã desta quinta-feira (13). O empresário, que é sócio de quatro empresas, disse que não ajudou a financiar os atos antidemocráticos realizados no dia 8 de janeiro.

Logo no início do depoimento, Joveci foi questionado por Chico Vigilante se participou de atos e manifestações. “Eu não participei”, afirmou o depoente. Em seguida, foi exibida uma foto dele em manifestação. Então, o empresário admitiu. “Ir lá, eu fui. Eu entendi o participar de uma outra forma”, se retratou.

Joveci afirmou que não patrocinou alimentação, trio elétrico, outdoors ou faixas de protesto para as manifestações do dia 8 de janeiro. “Não tenho conhecimento de como eles se sustentavam. Minha empresa não compactua. Lá, só sai mercadoria paga”, afirmou o empresário. “Que eu me recorde, não participei de vaquinha e não doei mercadoria. É difícil tirar dinheiro de comerciante”, repetiu inúmeras vezes o depoente. Por fim, questionado sobre possíveis ações do seu sócio, afirmou: “Não posso responder por meu sócio, Adauto, enquanto pessoa física”, disse Joveci.

O comerciante acionou a Justiça e conseguiu um habeas corpus e conquistou o direito de permanecer em silêncio e não ser submetido ao juramento de dizer a verdade, além de ter o acompanhamento de seus advogados. Ainda assim, compareceu e não se absteve de responder as perguntas dos parlamentares.

Segundo o empresário, ele é sócio de empresas que geram cerca de mil postos de trabalho. São elas: Melhor Atacadista, supermercado atualmente com 8 lojas no DF, Garra Distribuição, empresa do ramo de alimentos, Canal Distribuição e Marcas Premium, que atua no setor de frutas secas e castanha.

Joveci disse que esteve em algumas ocasiões no Quartel General. “Estive no acampamento no máximo três vezes. Era um ambiente que eu senti que tinha o controle do quartel. Eu como empresário me senti seguro lá. Era como se fosse a segurança do quartel”, afirmou.

 

O empresário admitiu ter ido à Praça dos Três Poderes no dia 8 de janeiro. “No dia 8, cheguei à manifestação depois de 16 horas e não invadi nenhum prédio. Quando cheguei lá, vi que a coisa estava feia e tudo já estava destruído. Não entrei em prédios públicos. Só me aproximei do Palácio do Planalto. É de uma estupidez sem tamanho aqueles atos que quebraram, puseram fogo, roubaram as peças. Não tenho dúvida nenhuma que as pessoas que fizeram isso merecem estar presas”, disse o empresário.

O empresário também afirmou que crê na democracia e nas urnas, além de defender o direito de manifestação. “Acredito nas urnas eletrônicas, sou um democrata e até já votei no presidente Lula em outras eleições. Todo cidadão tem o direito de se manifestar e pedir a saída de um governante. Qualquer cidadão, inclusive eu, tem o direito de sair aqui com uma faixa dizendo ‘Fora Lula’, é um direito meu. Mas é impossível não reconhecer o governo, não reconhecer o presidente. Hoje nosso presidente é Lula e tenho que torcer para ele fazer um bom governo porque se o Brasil quebra, eu quebro, tenho quatro empresas e dependo disso”, disse o supermercadista.

Opiniões divergentes

 

 

O deputado Fábio Felix (PSOL) ressaltou que a fala do depoente não é juramentada. “Ele conseguiu uma liminar para não precisar falar a verdade. Então, ele não é obrigado a falar a verdade hoje. Portanto, tudo deve ser comprovado pela investigação da Polícia Civil”, afirmou Felix.

O distrital declarou que atos como aqueles do dia 8 tinham a intenção de iniciar um golpe de Estado no país. “Foram invadidos três prédios públicos, depredados e destruídos. Atos violentos como esse no mundo e na história do mundo foram utilizados justamente como a faísca para um golpe de Estado. Na praça dos Três Poderes estão lugares símbolos da democracia, os prédios foram atacados para gerar essa faísca de não reconhecimento das eleições”, enfatizou Felix.

Por outro lado, o deputado Pastor Daniel de Castro (PP) se manifestou. “Vários querem chamar manifestante de terrorista, de golpista. Não é! É cidadão livre, que pode se manifestar”, disse Daniel. Além disso, o parlamentar reclamou que o GSI não liberou as imagens do local, conforme requerimento apresentado por ele.

 

“Mais uma vez, o GSI não autorizou as imagens dos atos. Eu não entendo, quero ter acesso a essas imagens”, exclamou o distrital.

Já o deputado Gabriel Magno (PT) afirmou que manifestação é livre, mas que pedir intervenção militar é crime. “É óbvio que qualquer cidadão pode pedir a saída de qualquer político. Por outro lado, é crime pedir intervenção militar e quem pediu ou quem financiou cometeu crime. No acampamento, o intuito era pedir um golpe de Estado”, declarou o petista.

Por sua vez, a deputada Paula Belmonte (Cidadania) se pronunciou. “Não tenho pergunta para o senhor, tenho aqui o meu agradecimento a essa pessoa que vem gerando emprego e pagando impostos em Brasília”, disse a deputada.

O presidente Chico Vigilante (PT) reforçou que o depoimento teve origem em requerimento aprovado pela CPI. “Aqui não tem deputado bonzinho ou mauzinho. Todos os requerimentos foram aprovados por unanimidade. Ninguém questionou na hora. Nós não estamos dizendo que o depoente é criminoso, estamos dizendo que estamos apurando”, afirmou o presidente da comissão.

 

Por fim, o relator da CPI, deputado Hermeto (MDB) reforçou a declaração de Vigilante. “Aqui o intuito não é constranger ninguém. Estamos ouvindo e o que me consta ele é investigado”, declarou o emedebista.

Também participaram da reunião os deputados Robério Negreiros (PSD), Thiago Manzoni (PL) e Max Maciel (PSOL), além da deputada Jaqueline Silva (sem partido).

Francisco Espínola - Agência CLDF