Calorão: temperatura média no DF aumentou 1,85°C nos últimos 60 anos, diz estudo
O Distrito Federal e o país enfrentam uma onda de calor com temperaturas que chegam a até 5°C acima da média para esta época do ano. Dados do monitoramento do clima do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) apontam que, nos últimos 60 anos, a temperatura média em Brasília aumentou 1,85°C.
Já a temperatura máxima no DF aumentou 2,10°C. Os índices também impressionam quando se fala de umidade do ar: o número de dias com umidade abaixo dos 30% a cada ano aumentou de 24 para 50 dias. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o ideal é uma umidade de 60%.O Laboratório de Sustentabilidade Aplicada à Arquitetura e ao Urbanismo (LaSUS) da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (FAU/UnB) investiga as relações entre o uso do solo e o microclima em diversas regiões do Distrito Federal, e aponta crescimento da construção civil como uma das causas do aumento de temperatura (saiba mais abaixo).
De acordo com a professora aposentada da FAU/UnB, Martha Romero, o local escolhido para a construção de Brasília foi definido pelo clima.
"Era ameno, mas nós mudamos isso em pouco tempo. A previsão para 2070 é ainda mais preocupante, com um aumento de 6ºC", diz Martha Romero.
Para a professora, são necessárias medidas para a diminuição deste dano e uma política de adaptação às mudanças climáticas. "Não é algo que seja fácil, mas isso tem que começar, tem que ser política de Estado", afirma.Como é feito o monitoramento
No LaSUS, da UnB, pesquisadores de diferentes áreas, como Arquitetura e Urbanismo, Geologia e Física, se uniram para investigar as interações entre o uso do solo e o microclima. Desde 2018, monitoramentos são realizados em diversas regiões administrativas do DF.O estudo detectou variações de temperaturas para cima em locais como o Paranoá e o Itapoã, por exemplo, regiões onde o aumento no número de moradias não foi planejado. O acompanhamento utiliza três métodos distintos para o monitoramento:
Análise das imagens de satélite que geram dados de grandes áreas;
Espalhamento de equipamentos em pontos fixos, por certo período de tempo, para coleta de informações;
Uso de um dispositivo (transecto) móvel, que pode ser colocado no carro ou em uma mochila para observação.
Segundo a professora do Instituto de Física da UnB Erondina Lima, o dispositivo vai passando no lugar e tem acesso aos valores de temperatura, umidade e pressão. Os dados são coletados e armazenados.
"É um material que foi ideia da FAU, surgida da necessidade de monitorar espaços pequenos e ter uma tecnologia que suporte esse objetivo. Quando eu espalho mais equipamentos de análise, consigo coletar de vários pontos, e, assim, fazer um detalhamento do microclima daquele local", diz a professora.